Você deveria aprender a respirar direito

Rodrigo Ortiz Vinholo
4 min readSep 24, 2019

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Eu tenho uma sugestão: a gente podia tornar moda respirar.

Não respirar de qualquer jeito, respirar do jeito que todo mundo respira, mas respirar legal. Respirar bem. Aquela respiração raiz, respiração moleque, respiração bonita, bem-feita.

Sabe aqueles memes sobre você se hidratar e fazer seus amigos ficarem hidratados, e só encontrar um crush que seja bem hidratado? Pois vai ser a mesma coisa, só que “bem respirado”. Ou melhor, “que respira bem.”

Mas falando sério, a gente respira muito mal. Sério.

Se preferir, posso falar que “não respiramos tão bem quanto deveríamos.” Mas acho que chama mais a atenção para o potencial que temos se eu realmente falar que “a gente respira muito mal.” E convenhamos: pra uma coisa que a gente passa tanto tempo fazendo, a gente faz MUITO mal.

Já parou pra pensar nisso? É uma das coisas que fazemos para continuar vivendo. É uma coisa que fazemos no piloto automático. Exceto talvez agora, porque eu chamei atenção para isso. Mas enfim: tire uns minutinhos do seu dia agora para melhorar a sua qualidade de vida. Largue as redes sociais, a música, as planilhas e textos e pessoas.

Respire aí. Respire fundo, e só pelo nariz, mesmo! Já é melhor, mas provavelmente não é fundo de verdade. Provavelmente você tá respirando só com a parte alta do peito. Isso é furada. Faz assim: coloca as mãos no abdômen, uma de cada lado, umbigo no meio. Agora tenta respirar com o abdômen. Só respiração nasal, hein?

Inspire, abdômen para fora, expira, abdômen para dentro. Devagar, alongando a cada fase.

Provavelmente isso já é mais fundo do que você estava respirando antes. Para você ter uma ideia, se você estava só respirando com a parte alta dos pulmões, você respirava em uns 10% da capacidade. Agora você adicionou uns 60%. Sem exagero.

Pense assim: a capacidade pulmonar de um adulto é, em média, 5,8 litros de ar. Na prática, a capacidade respiratória real é de 4,5 a 5 litros. Agora imagina que você estava com só 500 ml, agora conseguirá passar pra uns 3500 ml. Aí é vantagem, hein?

Suba agora as mãos pras costelas, uma de cada lado. Mesma coisa: hora da respiração intercostal. Pode se concentrar só nesse pedacinho mesmo! Com o movimento dessa parte do corpo, as mãos se separam quando inspirar, e se juntam quando expirar. Aqui tem uns 30% da sua capacidade pulmonar.

Agora, pra teste, tente respirar só com a parte alta do peito. Provavelmente é até mais fácil, porque você sempre fez assim, mas o tanto de ar que entra não é a mesma coisa.

Tenta juntar tudo, agora. Abdominal, intercostal, alta. Uma parte seguida da outra, nessa ordem, na inspiração, e o contrário na expiração.

Achou difícil? Pra muita gente acaba sendo difícil, mesmo. É um movimento muscular um pouco diferente do que estamos acostumados, mas acredite, vale a pena manter. Eu prometo: se você praticar isso um pouquinho por dia, e tentar manter atenção da sua respiração para sempre ter isso quando puder, sua qualidade de vida vai melhorar, e MUITO.

Pensa que seu corpo, e em especial seu cérebro, funciona com oxigênio. Imagina que ele pode nem estar funcionando direito. Ou que, mesmo que esteja bom, pode funcionar muito melhor.

Não só isso, mas se sua respiração está regular e completa, é mais fácil se concentrar. A cabeça fica menos bagunçada e fica mais fácil você fazer o que estiver querendo (ou precisando) fazer.

E tem o que pra muita gente provavelmente vai ser a maior parte, que é a possibilidade de hackear um pouco os próprios sentimentos: sabe quando você está com raiva, nervosismo, desespero, tristeza ou qualquer outra coisa e sempre aparece alguém com cara de santinho barroco pra te dizer “respira, calma, respira que passa”? Pois apesar da sua vontade de afundar um sapato na garganta daquela pessoa, terei que admitir que ela tem alguma razão!

(Ah, não afunde um sapato na garganta das pessoas ou agrida de qualquer outro modo, geralmente não ajuda muito para nada.)

Acontece que nossos sentimentos influenciam diretamente na respiração. Nós podemos acabar retendo, ou acelerando, ou desacelerando, de acordo com o que está acontecendo. Todo mundo já notou isso. Mas o que nunca falam para nós é que o contrário também é verdadeiro: se nós, sentindo alguma alteração dessas, mudarmos a respiração para algo completo e ritmado, nós podemos alterar e manobrar melhor os nossos sentimentos.

Ou seja, aquela história de “respira fundo que passa” não é falsa. Só te explicaram mal, e provavelmente você fez isso com uns 10% da capacidade pulmonar.

Realmente espero que isso ajude, e que você saia daqui uma pessoa mais oxigenada, maneira, bem-disposta, concentrada, estável e feliz. E não é nem exagero. Boa respiração!

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Rodrigo Ortiz Vinholo
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Written by Rodrigo Ortiz Vinholo

Publicitário, jornalista, escritor, professor e pessoa estranha.

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