Um diálogo comigo mesmo
— Eu estou cansado.
— Então descanse.
— Não posso, eu preciso criar algo impressionante.
— Você consegue criar cansado?
— Não importa, se eu não tentar, nada será criado.
— Mas se você descansar, não vai criar melhor amanhã?
— Mas aí amanhã eu não terei criado nada.
— Sim, mas você pode criar amanhã. Talvez até mais, por não estar cansado.
— Mas e se amanhã for tarde demais?
— Tarde demais para quê?
— Tarde demais em geral.
— Por que seria tarde demais?
— Porque se eu não fiz até agora, quanto mais eu demorar, mais tarde será, entende?
— Não.
— Nem eu.
— Então por que você não para e entende?
— Porque se eu parar, eu demoro mais. Os outros estão fazendo coisas impressionantes.
— Certo, mas você está competindo com eles?
— Estou.
— No quê?
— Em tudo.
— Mesmo se isso fosse verdade, você acha que eles não descansam?
— Talvez.
— E aí?
— Se eu perder tempo descansando, eles vão tomar uma dianteira ainda maior.
— Você percebe que isso tudo é fundamentalmente sobre você se sentir inferior?
— Sim.
— E que mesmo que você criasse algo impressionante, talvez o problema não estivesse resolvido?
— Talvez.
— E aí?
— Eu estou cansado.