Diga "33"
Eu nunca ouvi um médico me pedir para dizer “33”, mas eu acredito que possam existir médicos que dizem isso, ou que possam ter existido.
Eu fui ensinado que isso existe, e as pessoas ao meu redor também. Aparecia nos gibis que eu lia, filmes, novelas, desenhos animados, talvez até em alguma série de TV. Ou, pelo menos, me parece que apareceu em tudo isso. Realmente não tenho certeza. Quanto ao gibi, ao menos, eu tenho certeza.
As pessoas me disseram que médicos sabem dizer o que há de errado comigo, quando eu sentir que há algo de errado, e que eles dizem “33” e fazem outras perguntas e usam um estetoscópio, e descobrem o que há de errado.
Elas estavam certas. Isso é, exceto pela parte do “33”, mas estavam certas sobre o resto.
Médicos, se pararmos para pensar bem, são engraçados, no sentido em que são profissionais especializados em descobrir o que há de errado com os outros. Lógico que essa explicação simplista pode ser replicada para várias outras ocupações, mas não para todas. Não para tudo. E acho que há algo para considerarmos, nisso.
Pense bem: quando foi a última vez que você “disse ’33'”?
Ok, talvez a resposta seja “mas eu nunca disse ’33’ nesse contexto”, e eu entenderia. Vamos reformular a pergunta, abandonando essa minha analogia estranha: quando foi a última vez que você parou para analisar algo que havia de errado em você e/ou na sua vida?
Aí está. Essa é uma pergunta boa. É aqui que eu queria chegar.
Eu gosto da ideia de “dizer ‘33’”. Nós estamos acostumados à ideia de ir a um médico, seja do corpo ou da mente, e ele nos dizer o que há de errado conosco.
Só que, antes disso, nós tivemos que ter alguma consciência mínima sobre nós mesmos. Seja “minha garganta está raspando” ou “tenho uma dor na perna” até “faz tempo que não faço um check-up”.
Mesmo para o psicológico. Ninguém procura um psicólogo ou psiquiatra à toa. Em algum momento, nós temos que olhar para nós mesmos e soltar o famoso momento em que paramos e murmuramos “peraí.”
Diga “33”. Se quiser dizer literalmente, tudo bem. Não vou impedir. Mas tome a postura de diagnóstico que está implícita nessa brincadeira, e me diga: onde dói? O que há de errado em sua vida?
Qualquer médico que se preze confirmaria que o certo é estarmos saudáveis e bem, e que o melhor é que tenhamos mais momentos de alegrias e felicidade do que de tristeza e infelicidade. Só que o trabalho do médico — incluindo dos médicos da cabeça e até do espírito, se quiser algum assim — só irá até certo ponto. Tem um tanto que só nós mesmos conseguimos tomar o papel de olhar para nossas vidas, dizer “33” e ver o que soa errado.
A infelicidade que algo te traz, é normal? A ansiedade? A ambivalência?
É “dizer ’33'” que vai te fazer entender por onde você vai começar a se organizar, se consertar, ou até se desmontar, se for o caso. O médico pode consertar sua dor no dedão do pé, mas se você está chutando parede ou se está com o sapato apertado, ele não conseguirá te salvar. Suas dificuldades psicológicas podem ser resolvidas por seu psicólogo ou psiquiatra, mas se você não marcar horário e ir encontrá-lo, não vai adiantar.
Quando criamos o hábito de dizer “33”, fica mais fácil prestar atenção no que estamos errando e enxergarmos o que podemos mudar. Infelizmente, vale dizer, para várias situações a única coisa que podemos mudar é nossa atitude ou papel em relação a elas, porque não dá para mudar as coisas ou as pessoas, ao menos não tão facilmente. Com isso, vale bem pouco nos basearmos no tanto que podemos culpar ou não os outros, exatamente porque isso nos exime.
Pense o seguinte: se algo te deixa mal, culpá-lo não vai te ajudar. O jeito é mudar o que está acontecendo e, se não for possível, analisar em você o que é que te prejudica nisso e como mudar. É dizer “33”.
São três caminhos, e um deles nunca leva a lugar algum. Entre não fazer nada (e reclamar), fazer algo no mundo ou fazer algo em você, prefira os dois últimos. Só que é fato que geralmente nós paramos só no primeiro se não pararmos para questionar e pensar.
Por isso, lembre-se: diga “33”.
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Aliás, preciso dizer que este texto todo não é uma ideia nova, para mim. Gosto muito do conceito de dizer “33”, tanto que escrevi um livro inteiro baseado nessa ideia! Certo, não só nela, mas boa parte dos elementos, inclusive o título, derivam de desdobramentos desse conceito.
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